Ezequiel Balthazar
Biografia
Criado em comunidades do subúrbio carioca, na infância e adolescência, dormia em cima de um pedaço de madeira e construía seus próprios móveis com sobras de caixotes. Aos 12 anos, vendia bonecos de barro nordestinos, quadros de paisagens e sacolas na Feira de São Cristóvão. Aos 14, o primeiro emprego formal: cobrador nas linhas de ônibus 432 e 433, onde o pai era motorista. Foi office boy, servente de pedreiro, pintor de parede, motorista de táxi, chofer de madame e etc.
Quando criança, na escada da casa onde morava no morro, ao final da Camarista Méier, seu pai apontou para o jovem negro que subia lentamente a rua e lhe disse: "Está vendo aquele rapaz bem escurinho lá? Ele está indo visitar seus parentes no morro, mas não mora mais aqui, porque estudou, se formou como engenheiro, passou para a Petrobras e comprou um apartamento para o seu pai."
Naquele momento, em silêncio, o jovem garoto fez um voto consigo:
- Ainda vou comprar uma casa para o meu pai e tirá-lo daqui.
Na adolescência, Ezequiel já demonstrava na comunidade seu espírito altruísta; alfabetizava crianças e treinava times de futebol feminino e masculino, pois naquela época já percebia o quão importante seria ocupar aqueles jovens com atividades construtivas.
"Perdi muitos amigos para o crime. Sempre soube que aquele caminho não era pra mim e tinha esperança de que o estudo me ajudaria a transformar minha realidade."
Ainda na adolescência, um episódio marcou profundamente sua vida: um rato caiu em seu peito, por entre as frestas do precário telhado de telhas de amianto do quarto em que dormia. Depois do susto, prometeu a si mesmo:
- Meus filhos não vão passar por isso, vou mudar esta realidade!
Então, Ezequiel começou a reescrever a sua história. E a atração pelos livros mudou o seu destino:
- No ponto de táxi, no carro da madame, enquanto os outros motoristas jogavam conversa fora, eu lia. O conhecimento me incluiu na sociedade.
Passou no concurso para a Escola de Sargentos das Armas do Exército, foi selecionado para a unidade de helicópteros, fez cursos na França e no Brasil e realizou parte do seu sonho.
- O Exército me deu condições para alçar voos maiores. Continuei a estudar muito e passei para a Faculdade de Direito de Taubaté. Depois de formado, comecei a dar aulas em cursinhos preparatórios e na faculdade. Mas a atividade de professor evoluiu tanto que resolvi deixar o Exército, o que eu mesmo considerava, na ocasião, uma loucura.
Em mais uma vitória proporcionada pelos estudos, aos 37 anos, no dia 10 de outubro de 2001, com alguma hesitação, entrou para o BNDES sem conhecê-lo muito bem: "Só sabia que era um banco e que cuidava de desenvolvimento", confessa Ezequiel.
O ano de 2004, foi um ano extremamente difícil. A descoberta de que sua mãe tinha câncer no intestino abalou toda a família e trouxe ainda mais urgência para o cumprimento da promessa que o, ainda menino, Ezequiel tinha feito a si mesmo. No leito do Hospital do Inca-RJ, quando sua mãe temerosa era dirigida para a mesa de cirurgia, ele a disse:
- Mãe, não se preocupe! Nada vai acontecer porque Deus não vai te deixar partir antes que eu cumpra a promessa de comprar uma casa melhor para a senhora morar por muitos anos.
"Deus foi justo comigo."
Hoje, depois de trabalhar como Coordenador jurídico na antiga Área de Desenvolvimento Regional e na Área de Inclusão Social, gerente jurídico no Departamento de Normatização da Área Jurídica e Chefe do Contencioso Jurídico do BNDES, é advogado sênior, professor e palestrante, com títulos de doutorado em Direito pela USP, mestrado pela UNIFIEO/SP, MBA Executivo pela UFRJ/COPPEAD (na qual leciona) e com participação em importantes obras jurídicas, ele pode se orgulhar das promessas cumpridas: uma nova realidade para a família e o sonho realizado de comprar uma casa para seus pais.







